quinta-feira, 22 de julho de 2010

V Encontro Estadual de História



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segunda-feira, 19 de julho de 2010

2ª Olimpíada Nacional em História do Brasil já recebe inscrições

[1/6/2010] O Museu Exploratório de Ciências (MC) da  Unicamp recebe, até 6 de agosto, em sua página na internet, as inscrições para a 2ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB). Compostas por cinco fases on line e uma presencial, a competição envolve professores e alunos na resolução dos problemas propostos. A primeira fase da competição começa em 19 de agosto, Dia Nacional do Historiador, data que comemora o nascimento do jornalista e historiador, Joaquim Nabuco. Em 2010 é celebrado o centenário de sua morte, ocorrida em 17 de janeiro de 1910.

Poderão participar estudantes regularmente matriculados no 8º e 9º anos do ensino fundamental e demais séries do ensino médio, de escolas públicas e privadas de todo o Brasil. Para orientar a equipe, composta por três estudantes, é obrigatória a participação de um professor de história.

O formulário de inscrição e o boleto para pagamento estarão disponíveis no site do MC até o dia 6 de agosto. A taxa de inscrição é de 15 reais para as equipes de escolas públicas e 35 reais para as equipes das escolas particulares. O valor da inscrição corresponde à inscrição de todos os membros da equipe.

Como em 2009, o MC custeará, com o apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da empresa Azul Linhas Aéreas Brasileiras, a vinda de uma equipe de cada estado brasileiro para participar da fase presencial. Após a final da Olimpíada, os professores responsáveis por essas equipes permanecerão na Unicamp para realizar capacitação de uma semana.

A ONHB premiará escolas, alunos e professores, com medalhas de ouro, prata e bronze e certificados de participação. A escola receberá doação de livros para o acervo da biblioteca e a assinatura da Revista de História da Biblioteca Nacional por um ano.

ONHB
A 2ª Olimpíada Nacional em História do Brasil é uma iniciativa do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp. O evento é patrocinado pelo CNPq e tem o apoio da Revista de História da Biblioteca Nacional. A 1ª edição, realizada em 2009, inscreveu mais de 15 mil participantes e reuniu cerca de duas mil pessoas na final presencial, realizada na Unicamp, nos dias 12 e 13 de dezembro.

A ONHB é concebida e elaborada por historiadores e professores de história do MC e da Unicamp. Como proposta, os participantes têm a oportunidade de trabalhar com temas fundamentais da história nacional e de conhecer de perto as práticas e metodologias utilizadas pelos historiadores.

CALENDÁRIO
Inscrições - 1/6 a 6/8
Fase 1 - 19/08
Fase 2 - 26/08
Fase 3 - 2/09
Fase 4 - 9/09
Fase 5 - 16/09
Fase 6 - 23 e 24/10

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Lançamento do livro Memorial Mãe Menininha do Gantois- Seleta do Acrevo

Edital Prêmio Palmares de Monografia e Dissertação - 2010

Lançado Edital Prêmio Palmares de Monografia e Dissertação - 2010



A Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura, abriu inscrições para o Concurso Nacional de Pesquisa sobre Cultura Afro-Brasileira, Comunidades Tradicionais e Cultura Afro-Latina. As inscrições poderão ser feitas até o dia 16 de agosto de 2010. O Concurso vai premiar monografias de conclusão de graduação e dissertações de mestrado que tratem dos temas acima mencionados. Serão selecionados, dentro das três áreas temáticas propostas, os melhores trabalhos em cada uma das cinco regiões brasileiras, somando 30 premiações, com o valor total de R$ 180 mil.

Segundo Mércia Queiroz, coordenadora do CNIRC - Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra, departamento da FCP que está organizando o concurso, o Edital é uma conexão da Palmares com a Academia. "Esta iniciativa é de extrema importância para os novos pesquisadores que se debruçam sobre a temática da cultura afro-brasileira e latina e das comunidades tradicionais, uma ótima oportunidade para que os seus trabalhos sejam divulgados, inclusive internacionalmente, pois todos serão publicados no site do Observatório Afro-Latino. É a abertura de um espaço de diálogo com estudiosos de outras partes do mundo", afirma Mércia.

A participação é gratuita e aberta a qualquer pessoa residente e domiciliada no território brasileiro, com conclusão comprovada de graduação superior em instituições públicas ou privadas. Os interessados podem ter formação em qualquer área do conhecimento e ser de qualquer nacionalidade.

As dúvidas referentes ao Concurso serão esclarecidas através do e-mail premiopalmares2010@palmares.gov.br.

Acesse abaixo a íntegra do Edital, Ficha de Inscrição e Termo de Licenciamento de Direitos Autorais:


terça-feira, 6 de julho de 2010

A Reforma católica e a Contra-Reforma

Gilberto Salomão*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Ignácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, a ordem dos soldados de Cristo
A contínua expansão do protestantismo por toda Europa colocou a Igreja Católica em uma situação crítica. Impunha-se uma reforma para moralizar o clero e, ao mesmo tempo, desencadear o combate às novas religiões, classificadas como heresias.

O surgimento da Companhia de Jesus, em 1534, por obra de Ignácio de Loyola, revelou-se fundamental para a realização da Reforma católica. Os jesuítas, chamados de "soldados de Cristo", devotando uma cega obediência ao papa, encarregaram-se de organizar um concílio.

Inquisição

Enquanto aguardava a instalação do concílio, o papa Paulo 3º (1534-1549) tomou medidas para combater o protestantismo. Em 1542, a Inquisição (ou Tribunal do Santo Ofício) foi reativada. Dominada pelos dominicanos, ela conseguiu, utilizando de métodos violentíssimos, deter o avanço protestante na Itália, na Espanha e em Portugal. Nos países ibéricos, o apoio real foi fundamental para a derrota do protestantismo. E em 1543 foi elaborado o Index Librorum Prohibitorum, ou simplesmente Index, um catálogo que arrolava obras de leitura proibida aos católicos.

Concílio de Trento

O Concílio de Trento reuniu-se, finalmente, em 1545, durando até 1563. Foi ecumênico, ou seja, reuniu representantes de toda Igreja. Ele produziu uma Igreja reformada, embora os dogmas católicos não sofressem alteração: o princípio da salvação pelas boas obras foi confirmado; o culto à Virgem e aos santos foi reafirmado; a infalibilidade papal, o celibato clerical e a indissolubilidade do casamento foram mantidos.

Graças às pressões dos jesuítas, a autoridade papal foi reforçada. A disciplina do clero restabelecida: fixaram-se condições e idades mínimas para o exercício das funções eclesiásticas; o acúmulo de bispados e paróquias foi proibido, bem como a venda de indulgências. Criaram-se seminários para a formação dos eclesiásticos e foram elaborados um Catecismo e um Missal.

Com a Igreja revigorada, os católicos dedicaram-se à Contra-Reforma, com o sistemático combate às religiões protestantes. Internamente, a Inquisição encarregou-se de manter o controle sobre as populações católicas, perseguindo os heréticos e contendo a difusão das doutrinas protestantes.

Externamente, procurou-se reconquistar, por meio da educação, as áreas perdidas para o protestantismo. Pelo empenho dos jesuítas, vários colégios encarregados do ensino primário foram fundados na Europa. O resultado foi modesto. Após duas gerações, parte da Renânia, o sul dos Países Baixos e a Polônia haviam sido reconquistados.

O maior êxito da Contra-Reforma deu-se pela difusão do catolicismo entre os povos pagãos, por meio da catequese. Graças ao controle ibérico sobre a maioria da América, as massas indígenas foram convertidas, e os esforços, especialmente dos jesuítas, alcançaram na Ásia, a China e o Japão, embora com resultados modestos e passageiros.
PROCESSO SELETIVO (PS) DE ADMISSÃO À ESPCEX 2010 (MATRÍCULA 2011)

ORIENTAÇÕES AOS CANDIDATOS
Período de inscrição: 1º de junho a 14 de julho de 2010.
Como se inscrever: pela Internet nos endereços www.espcex.ensino.eb.br.
Taxa de inscrição: R$ 70,00 via Boleto Bancário.
Data de pagamento proposta: até 16 de julho de 2010.
Número de vagas para o concurso 2010 (Matrícula 2011): 520 (quinhentos e vinte).
Candidatos: brasileiros natos do sexo masculino.
Faixa etária: de 16 a 21 anos até 31 de dezembro de 2011.
Escolaridade exigida: estar cursando ou ter cursado, no mínimo, a 2ª série do ensino médio.
Provas do Concurso de Admissão:
18 de setembro de 2010 (sábado) - Física-Química e Geografia-História (Questões objetivas)
19 de setembro de 2010 (domingo) - Matemática, Português (Questões objetivas) e Redação (Questão discursiva)

ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO


A reforma luterana

Gilberto Salomão*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
O alemão Martinho Lutero estabeleceu os princípios de uma doutrina cristã reformada
O que hoje chamamos de Alemanha era, desde a Idade Média, parte do Sacro Império Romano Germânico. Criado no século 11 como uma extensão temporal do poder do papado, houve momentos em que o poder imperial entrou em choque com o papa, como na questão envolvendo as investiduras de bispos, no século 16. A vitória do papado nessa que ficou conhecida como a Querela das Investiduras aprofundou o poder político da Igreja na região.

Por outro lado, o poder enorme exercido pela Igreja tornava-a o local ideal para a venda de relíquias e indulgências. Empenhado na construção da Basílica de São Pedro, o papa Leão 10º (1513-1521) encarregou o dominicano John Tetzel de realizar uma maciça venda de indulgências por toda a Alemanha.

Foi contra isso que se voltou o duque Frederico da Saxônia, impedindo a entrada de Tetzel em seu território. A alegação para a proibição foi o fato de a Igreja ter feito um acordo com a família de banqueiros alemães, os Függer, no qual os banqueiros emprestavam à Igreja o dinheiro necessário em troca da garantia de metade da renda obtida com a venda de indulgências.

Martinho Lutero

Nesse conflito envolveu-se Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano e professor de teologia na Universidade de Wittenberg, com o apoio de Frederico. Na verdade, as críticas de Lutero à prática da Igreja já eram antigas, encontrando nesse contexto o espaço certo para sua disseminação.

Em 1517, Lutero fixou na porta da catedral de sua cidade um documento intitulado "95 Teses Contra as Indulgências". Nele, não apenas Lutero criticava violentamente a prática da Igreja, denunciando que o dinheiro das indulgências era usado para financiar o luxo do clero e atacando seu desregramento, como também se opunha a dogmas da Igreja. Ao afirmar que as indulgências eram incorretas, pois o fiel se salva não pelos atos que pratica, mas pela fé, Lutero incorria numa negação à doutrina da Igreja, uma heresia do ponto de vista da Igreja Católica, expondo-se assim à ação da Inquisição.

Excomungado como herege em 1520 pelo papa, Lutero recusou-se também a se retratar na Dieta de Worms, convocada pelo imperador Carlos 5º (Carlos de Habsburgo) e composta por todos os nobres laicos e eclesiásticos do Sacro Império. Estes, por sua vez, tinham interesse em apoiar Lutero, interessados em livrar-se da autoridade papal e em limitar o poder do imperador, defensor do catolicismo. Foram os príncipes alemães e a alta nobreza que ocultaram Lutero num castelo da Saxônia, impedindo sua execução.

Guerras e revoltas

Durante os três anos em que ficou oculto, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, numa forma de tornar seu conhecimento mais difundido entre a população, de modo a provar o quanto a Igreja havia se afastado dos propósitos cristãos. Em sua maioria, os príncipes alemães declararam-se adeptos da nova religião proposta por Lutero. Vendo nisso uma clara ameaça a seu poder, o imperador Carlos 5º impôs o catolicismo como religião oficial do império. Os príncipes protestaram contra essa imposição (daí advindo o termo "protestante"), dando início a um longo processo de guerras de religião na Alemanha.

Por outro lado, além do apoio da nobreza, por razões políticas, as idéias de Lutero despertaram o apoio dos camponeses, vendo nos ataques à Igreja uma oportunidade de reduzirem o grau de profunda desigualdade e exploração a que estavam submetidos. Várias revoltas camponesas eclodiram na Alemanha, entre elas a principal, liderada por Thomas Müntzer.

Lutero voltou-se violentamente contra esses movimentos, posto que, dependente do apoio dos nobres, ele jamais poderia colocar-se ao lado de revoltas camponesas. Assim, Lutero defendeu a postura mais agressiva possível contra eles ("[...] É preciso estrangulá-los; é preciso matar o cão raivoso que se lança contra ti ou ele te matará."). A repressão aristocrática aos camponeses durou de 1524 a 1536 e produziu mais de cem mil mortos.

Mudanças

Já em 1527, Lutero, juntamente com Melanchton, elaborou a Confissão de Augsburgo, que estabelecia os princípios de sua doutrina. Por ela estabelecia-se: que as Escrituras Sagradas eram o único dogma da nova religião; a fé era vista como a única fonte da salvação; a livre interpretação da Bíblia passava a ser permitida; negava-se a transubstanciação (transformação do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo, presente na fé católica) e a crença de que a presença de Cristo na Eucaristia era espiritual; adotava-se o alemão, e não mais do latim, como idioma nos cultos religiosos; a Igreja passava a ficar submetida ao Estado; e, finalmente, permaneciam apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia.

Em 1555, a Dieta de Augsburgo permitiu que cada príncipe escolhesse a sua religião, que passaria a ser também a de seus súditos ("cujus regio ejus religio" - tal príncipe, sua religião). O luteranismo triunfara na Alemanha. Foi adotado também na Suécia, em 1527, e na Dinamarca e Noruega, em 1536, como forma de afirmação dos poderes reais contra a interferência de Roma.

A reforma calvinista

Gilberto Salomão*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Fugindo da perseguição na França, Calvino estabeleceu-se em Genebra, na Suíça
Desde 1499, a Suíça havia obtido a independência em relação ao Sacro Império, estando dividida, politicamente, em cantões autônomos. Região rica, palco da ação de uma crescente burguesia, a Suíça, e particularmente a cidade de Genebra, acompanhou a penetração das idéias luteranas no país, trazidas por Ulrich Zwinglio, que receberam forte acolhida junto à burguesia local.

As idéias de Zwinglio já haviam gerado um violento conflito entre reformistas e católicos entre 1529 e 1531. Essa guerra civil fora encerrada com a Paz de Kappel, que dava autonomia religiosa aos vários cantões suíços.

João Calvino

Essa situação atraiu para as cidades suíças vários líderes reformistas perseguidos na Europa inteira. Entre eles, João Calvino (1509-1564), que, fugindo da perseguição aos protestantes na França, refugiou-se na cidade de Genebra. Já em 1536, Calvino publicou sua obra Instituição da Religião Cristã, na qual ele apresentava uma ruptura bem mais sensível com os dogmas católicos do que as idéias de Lutero e de Zwinglio.

Segundo a visão de Calvino, a salvação só se alcança através da fé, mas ela é concedida por Deus a alguns eleitos (predestinação), sendo que o homem é pecador por natureza. O culto foi ainda mais simplificado, resumindo-se a comentários bíblicos feitos por sacerdotes sem paramentos, em igrejas simples e despojadas de imagens. A exemplo do luteranismo, apenas o batismo e a eucaristia foram conservados, nesta última também se abandonando a idéia de transubstanciação.

Não apenas as concepções religiosas de Calvino iam diretamente ao encontro das aspirações da sociedade de Genebra, mas também a ética por ele preconizada. Podem ser citadas, nesse sentido, inúmeras passagens do próprio Calvino, como por exemplo: "Deus chama a cada um para uma vocação particular cujo objetivo é a glorificação dele mesmo. O comerciante que busca o lucro, pelas qualidades que o sucesso econômico exige: o trabalho, a sobriedade, a ordem, responde também o chamado de Deus, santificando de seu lado o mundo pelo esforço e sua ação é santa".

Huguenotes, puritanos e presbiterianos

Calvino foi amplamente aceito pela elite local. Guindado à condição de um líder religioso e político, Calvino, através das Ordenações Eclesiásticas, implantou leis rígidas, que davam à sua Igreja o controle total sobre a vida religiosa, moral e política dos cidadãos. A nova Igreja dividiu-se em fiéis, pastores e um conselho, o Consistório, que possuía amplos poderes.

Composto por três pastores e doze representantes da sociedade local, eleitos por um conselho municipal, o Consistório tinha poderes para regular cada aspecto do comportamento do cidadão, incluindo sua indumentária e as práticas sociais.

As idéias de Calvino difundiram-se rapidamente, muito mais do que as idéias luteranas, o que é outra mostra de sua consonância com a sociedade urbana em formação. Na França, os calvinistas foram chamados de huguenotes. Na Inglaterra, pelo tipo de comportamento preconizado pelos calvinistas, marcado pela seriedade, pela austeridade inclusive no vestir, pela dedicação fundamental ao trabalho, eles foram chamados de puritanos. Na Escócia, onde as idéias calvinistas foram introduzidas por John Knox, a Igreja calvinista foi organizada a partir de conselhos de pastores, os presbíteros, daí a designação de presbiterianos.
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A reforma anglicana

Gilberto Salomão*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
O rei Henrique 8o promoveu a Reforna na Inglaterra
O aspecto político das reformas teve, na Inglaterra, sua manifestação mais evidente. O próprio fato de a reforma religiosa ter sido conduzida diretamente pelos reis ingleses serve como comprovador dessa visão.

A dinastia Tudor nasceu num quadro de fortalecimento do poder real na Inglaterra, após o esmagamento dos setores dissidentes da nobreza na Guerra das Duas Rosas. O primeiro rei Tudor, Henrique 7º, procurou consolidar esse poder, esbarrando, entretanto, no forte poder político e econômico exercido pela Igreja Católica no país.

Foi o seu filho, Henrique 8º, quem vislumbrou a oportunidade de se voltar contra esse poder. Em meio à crise provocada na Alemanha pelo movimento luterano, Henrique 8º aproveitou-se do momento favorável para estabelecer um confronto com o papado.

Uma questão política e dinástica

A razão ostensiva para esse confronto liga-se a uma questão política e dinástica. Casado com a nobre espanhola, Catarina de Aragão, Henrique 8º tivera com ela uma filha, Mary. Impossibilitada de ter outros filhos, Catarina criava uma situação potencialmente perigosa para a monarquia inglesa. Sem filhos homens (o trono inglês jamais fora ocupado até então por uma mulher), Henrique 8º alegava o risco de morrer sem um herdeiro, o que tornava o rei da Espanha e Imperador do Sacro Império, Carlos 5º, sobrinho de Catarina, um dos pretendentes ao trono inglês.

Alegando a imperiosa necessidade de um herdeiro, Henrique solicita ao papa a anulação de seu casamento com Catarina. Tratava-se de uma manobra obviamente destinada a criar um confronto. Henrique tinha plena consciência de que o papa jamais iria se indispor contra Carlos 5º, seu principal aliado na luta contra Lutero.

Ante a recusa papal, Henrique 8º anulou por conta própria seu casamento, desposando, em seguida, Ana Bolena. Excomungado pelo papa, Henrique 8º reagiu, em 1534, com o Ato de Supremacia, por meio do qual ele criou uma Igreja nacional chamada Igreja Anglicana ou Igreja da Inglaterra, da qual era o chefe. Confiscou ainda os bens do clero católico na Inglaterra, distribuindo-os especialmente entre a gentry, a camada de pequenos e médios proprietários rurais, o que lhe assegurou uma ampla base de apoio.

Henrique não fez mudanças no culto. Elas foram obra de seu filho, Eduardo 4º, que, em 1549, impôs o Livro de Orações Comuns, em inglês, e em 1553 suprimiu a missa e o celibato clerical.

A Reforma anglicana completou-se no reinado de Elizabeth I (1558-1603) com a Lei dos 39 Artigos (1563). Adotou-se o calvinismo como conteúdo doutrinário, mas manteve-se a forma católica, preservando-se a hierarquia episcopal e parte da liturgia.

Reformas Religiosas

Reformas religiosas (1)

Causas e contexto histórico

Gilberto Salomão*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
O filósofo humanista Erasmo de Roterdã fez severas críticas ao comportamento da Igreja
O século 16 teve como uma de suas manifestações mais profundas o processo de reformas religiosas, responsável por quebrar o monopólio exercido pela Igreja Católica na Europa e pelo advento de uma série de novas religiões que, embora cristãs, fugiam aos dogmas e ao poder imposto por Roma, as chamadas religiões protestantes.

Mais do que apenas um movimento religioso, as reformas protestantes inseriram-se no contexto mais amplo que marcou a Europa a partir da Baixa Idade Média, expressando a superação da estrutura feudal tanto em termos da fé como também em seus aspectos sociais e políticos.

Da mesma forma, não se pode considerar as reformas religiosas como um processo que se iniciou no século 16. Ao contrário, elas representaram o transbordamento de uma crise que já vinha se manifestando na Europa desde o início da Baixa Idade Média, fruto da inadequação da Igreja à nova realidade, marcada pelo declínio do mundo feudal, pelo crescimento do comércio e da vida urbana, pela centralização do poder político nas mãos dos reis e pelo advento de uma nova camada social, a burguesia.

Também não se pode deixar de lado a influência do Renascimento Cultural, no sentido de romper com o monopólio cultural exercido pela Igreja Católica na Idade Média. O Renascimento teve o efeito de possibilitar a aceitação de conceitos e de visões de mundo diferentes daqueles impostos pela Igreja Católica, ao quebrar o quase monopólio intelectual que a Igreja exercia na Idade Média.

Num certo aspecto, as Reformas Protestantes são filhas do Renascimento, e representaram, como este, uma adequação de valores e de concepções espirituais às transformações pelas quais a Europa passava - nos campos econômico, social e cultural.

Humanismo e desvirtuamento da Igreja

As contestações ao poder e aos dogmas da Igreja não eram um fenômeno desconhecido na Europa do século 16. O próprio crescimento do pensamento humanista, absorvido pela Igreja através das universidades, e uma nova visão teológica, representada pelo tomismo, podem ser vistos como uma abertura da Igreja ao racionalismo e a uma visão de mundo mais humanística, se comparada ao forte teocentrismo que prevalecera até ali. As universidades foram canais por onde pôde penetrar a influência do pensamento racional, ao mesmo tempo em que o tomismo fundia a fé com elementos do racionalismo greco-romano.

Ao mesmo tempo, há que se levar em conta o desvirtuamento da Igreja e sua incapacidade de dar resposta aos anseios espirituais dos fiéis. Essa questão tem origem no papel que a Igreja passou a ocupar a partir da Idade Média. O fato de ser ela a principal possuidora de terras na Europa, bem como a instituição mais poderosa politicamente, colocava-a ao lado da nobreza como uma instituição beneficiária da estrutura feudal e, também, responsável por sua manutenção.

Na verdade, o vínculo orgânico entre a Igreja e a nobreza criava, necessariamente, distorções. A tendência é que as nomeações para cargos na alta hierarquia da Igreja (o termo correto para essas nomeações é investidura) obedecessem a critérios que passavam muito longe da vocação ou formação religiosa do postulante. Essas investiduras eram feitas levando-se em consideração o grau de riqueza, de poder e as benesses que a aliança com esta ou aquela família pudesse trazer para a Igreja.

A prática das chamadas investiduras leigas acabou acarretando graves problemas para a Igreja medieval. Em primeiro lugar, os problemas políticos, decorrentes da constante disputa com os poderes temporais para a ocupação de cargos e terras.

Mais grave que isso, entretanto, foi o fato de gerar um clero inadequado às suas funções religiosas, incapaz de dar resposta às necessidades espirituais dos fiéis. O desregramento do clero evidenciava-se numa atitude conhecida usualmente como nicolaísmo, termo usado para designar o desregramento que passara a marcar o comportamento do clero.

Mais que isso, a constante busca por um aumento da renda que sustentava o imenso luxo em que vivia o clero, levou a Igreja a intensificar, durante a Idade Média, práticas como a venda de relíquias sagradas ou de cargos eclesiásticos (práticas conhecidas como simonia) e a venda de indulgências (absolvição dos pecados cometidos).

Assim, cresciam manifestações intelectuais de críticas ao comportamento da Igreja. Nomes como Erasmo de Roterdã ou Thomas Morus propunham uma reforma interna da Igreja, com um retorno à pureza original do cristianismo. Por trás dessas propostas havia, por certo, uma crítica ao excessivo apego da Igreja aos bens materiais e ao poder.

Nacionalismo, heresias e política

Tais críticas já haviam atingido níveis mais preocupantes para Roma desde o final do século 14. Na Inglaterra, John Wycliff pregava o confisco dos bens da Igreja, o voto de pobreza por parte dos membros do clero e uma retomada das Sagradas Escrituras como única fonte da fé.

No reino da Boêmia, então pertencente ao Sacro Império, John Huss, tendo por base as idéias de Wycliff, viu suas pregações constituírem-se na base do sentimento nacionalista da região contra o domínio do Império e da Igreja de Roma. A prisão, seguida da condenação e execução de Huss, não conseguiu apagar a chama nacionalista, o que mostrava um lado intenso da crise vivida pela Igreja, qual seja, o seu domínio sendo alvo de reações nacionalistas.

Há outra forma de reação a esse desvirtuamento do papel da Igreja e ela fica evidente ao observarmos o crescimento das heresias. O termo era empregado para designar todas as manifestações de pensamento religioso discordante dos dogmas impostos pela Igreja Católica. Durante a Baixa Idade Média, e particularmente no século 13 (considerado o grande século das heresias), cresceram de modo significativo o número de seitas heréticas e o número de adeptos a essas seitas.

Ao contrário de uma primeira impressão, as heresias constituem-se numa prova de fé e não de falta de fé. Evidenciam a existência de uma população imbuída de uma profunda religiosidade não contemplada pelos dogmas e pelo materialismo da Igreja. Esta, por sua vez, jamais foi capaz de compreender o real significado das heresias. Ao contrário, a Igreja apenas viu nelas o que representavam em termos de ameaça ao seu poder baseado na unidade da fé. Assim, a reação da Igreja Católica às heresias concentrou-se na repressão. Não foi outra a função da criação do Tribunal do Santo Ofício ou Inquisição, justamente no século 13.

Há outros elementos decisivos nesse processo. A questão política passa a ganhar um peso significativo a partir do início do processo de centralização do poder. Naturalmente, os reis, ao buscarem se fortalecer politicamente, vão entrar em choque com o poder da Igreja. Em muitos casos (e o exemplo da Inglaterra, como veremos a seguir, é apenas o mais evidente), romper com a Igreja Católica e criar uma nova Igreja sob seu comando foi a forma encontrada pelos reis para se libertar do poder político do papado.

Além disso, num quadro de crescimento do comércio, os dogmas da Igreja, de condenação à usura e ao lucro excessivo, representavam um forte obstáculo para a burguesia. Assim, também essa nova camada ascendente vai ter interesse em romper com os entraves impostos pelo catolicismo e adotar uma nova religião, para a qual suas práticas não se constituíssem em pecados e fossem consideradas como dignificantes do homem.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Expansão marítima portuguesa
O pioneirismo português no séculoXV


Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução

Desembarque dos portugueses no litoral brasileiro
A descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500, foi o resultado de uma persistente e bem sucedida política de expansão marítima colocada em prática ao longo de muitos anos pela monarquia portuguesa.

A construção das grandes embarcações e a organização de expedições marítimas que passaram a explorar os oceanos nos séculos 14 e 15 dependeram do progresso da náutica, com o desenvolvimento de instrumentos e de técnicas de navegação. Isso tudo só pôde se concretizar à medida que eram destinados expressivas somas de riquezas, as quais somente o tesouro de um Estado organizado e forte poderia suportar.

Dinastia de Avis
O pioneirismo português nas grandes navegações marítimas - que culminaram nas descobertas de novas terras, na expansão do comércio e na propagação da fé cristã - se iniciou em 1385, data da subida ao trono de dom João 1º, conhecido como Mestre de Avis. O reinado de dom João inaugurou em Portugal a dinastia de Avis. Ele obteve o apoio da nobreza e dos comerciantes do reino, setores sociais que naquele período eram mais influentes política e economicamente.

Com isso, dom João 1º pôde promover uma acentuada e progressiva centralização do poder monárquico, o que fez Portugal surgir como um Estado independente e bem armado militarmente. O país alcançou a estabilidade política e a paz interna, fatores que propiciaram o florescimento e crescimento do comércio estimulando, desse modo, as riquezas do reino. Essas condições foram fundamentais para colocar em prática a política de expansão marítima destinando recursos para as grandes navegações.

Posição geográfica de Portugal: de cara para o Atlântico
Em sua origem, a expansão marítima portuguesa esteve associada aos interesses mercantis da burguesia do reino, ávida na busca de lucros por meio do comércio marítimo com outras regiões, sobretudo com o Oriente.

Essa era uma forma de superar as limitações do mercado europeu, que estava em crise pela carência de mão-de-obra, pela falta de produtos agrícolas e a escassez de metais preciosos para cunhagem de moeda. Interessava a essa burguesia apoiar o poder real no empreendimento da expansão marítima, por meio das navegações oceânicas e dela extrair seus benefícios.

Portugal também gozava de uma localização geográfica privilegiada na península ibérica. Grande parte do seu território está voltada para o oceano Atlântico. Essa posição geográfica, juntamente com as condições sociais e políticas favoráveis, permitiram ao país se projetar como potência marítima. Coube ao infante D. Henrique - filho de D. João 1o - as iniciativas para fazer Portugal inaugurar as grandes navegações oceânicas.

Escola de Sagres
D. Henrique era um amante das ciências e, sob sua iniciativa, foi fundada a Escola de Sagres, que reuniu diversos especialistas como cartógrafos, astrônomos e marinheiros que possuíam conhecimento do que de mais avançado se sabia na época sobre a arte de navegar.

Foi na Escola de Sagres que foram realizados, em 1418, os primeiros estudos e projetos de viagens oceânicas. Foi nela que foram aprimoradas embarcações como a caravela e aperfeiçoados os instrumentos náuticos necessários a longas viagens, como a bússola e o astrolábio, que haviam sido inventados no Oriente.

Portugal passou a obter sucessivos êxitos no empreendimento ultramarino. O marco inicial foi a conquista de Ceuta, em 1415, localizada na costa do Marrocos. Em seguida, empreendeu esforços para chegar às Índias pelo mar, contornando a África.

Primeiro os portugueses conquistaram as ilhas atlânticas dos arquipélagos dos Açores, Madeira e Cabo Verde (1425-1427) para em seguida explorar a costa africana.

Em 1488, a esquadra comandada por Bartolomeu Dias conseguiu transpor o Cabo da Boa Esperança, localizado no extremo sul da África. Dez anos depois, a esquadra comandada por Vasco da Gama conseguiu ir adiante e navegar pelo oceano Índico, aportando em Calicute, extremo sul da Índia, em 20 de maio. Ambos os navegadores estavam a serviço de Portugal.